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AURÉLIO FERREIRA

Atualizado: 28 de abr.


Três perguntas para… Presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande

Aurélio Ferreira

 

1. Tendo ainda uma idade muito jovem quando se deu o 25 de Abril de 1974, diga-nos que consciência teria das restrições impostas pelo regime ditatorial em que vivíamos e do medo que as pessoas sentiriam.

Todos os que vivemos na Marinha Grande antes de 1974, sabíamos o que representava o regime de então. A sociedade marinhense, nos mais diversos setores, sentia as condições em que nos enquadrávamos. A liberdade de expressão não existia, como tal, as conversas de rua eram contidas, mitigavam-se as opiniões políticas, tal o medo que alguém ouvisse e fosse denunciar. Mas não era apenas a política, o que dignificava a pessoa era o trabalho, duro, muitas vezes mal pago, mas reclamar melhores condições poderia ser mal-entendido, com as consequências inerentes.

A maior inquietação dos jovens era o aproximar da vida militar e a mobilização para o ultramar. As famílias, as mães, as esposas e namoradas choravam a partida do seu ente querido, para uma guerra em Africa, que podia ficar estropiado, ou simplesmente não regressar.

Eu frequentava o 3.º ano do Curso Geral dos Liceus (hoje 9.º ano) na Escola Industrial e Comercial da Marinha Grande (hoje Calazans Duarte), onde as restrições também se sentiam. Não havia conversas com meninas nos corredores, os pátios eram separados, os rapazes só podiam subir nas escadas de trás. Qualquer transgressão era punida, por isso tínhamos medo até do cheiro do cachimbo do diretor.

 

2. De que forma viveu os primeiros tempos da revolução e desde quando teve consciência de que esta tinha provocado grandes transformações na nossa sociedade?

Passar a ter liberdade para falar de tudo, para ler e ouvir músicas que eram proibidas, ou até poder subir as escadas da frente da escola, era extraordinário. A manifestação do 1.º de maio de 74, quando a Praça Stephens e as ruas envolventes se encheram num mar de gente, desde a Câmara até aos bombeiros, foi o momento marcante que me fez cair a ficha. Onde estava todo aquele povo? Porquê tanta vontade de se manifestarem daquele modo? Abraçavam-me sem me conhecerem, e alguns choravam.

Era indescritível o ambiente que se vivia e tinha a certeza de que a mudança, para além de desejada, seria algo sublime.

Mas com a idade que tinha, acho que não estava preparado para o pós 25 de Abril de 74. Recordo que nesse ano letivo, apesar de a escola continuar, poucas aulas houve, as RGA (Reuniões Gerais de Alunos) eram todos dias. Achávamos que éramos os donos da escola, das salas de aulas, dos recreios. Os professores queriam ensinar, reclamavam, mas nós, os alunos, sentíamo-nos poderosos, não entendendo o significado da revolução que nos tinha proporcionado liberdade.

Foram tempos de mudança, confesso que por vezes com exageros, mas na adolescência (quase) tudo nos era permitido… pelo menos naquele momento.

 

3. Se lhe dessem a hipótese de estar com algumas das pessoas que participaram no 25 de Abril de 1974 ou nos tempos revolucionários que se lhe seguiram, diga-nos quais seriam as três que convidaria para almoçarem consigo e quais os assuntos que gostaria de abordar nessa conversa.

Salgueiro Maia: como foi preparar uma revolução pacífica, desde as reuniões clandestinas em 1973, o comandar uma coluna de blindados até ao Terreiro do Paço, o render do Presidente do Conselho de Ministros e escoltá-lo até ao aeroporto para partir para o exílio. E após liderar as tropas, tem consciência que a sua missão terminou, e entrega o poder, sem a obsessão de o querer para si… que ato nobre!!!

Zeca Afonso: como é possível escrever tantos poemas profundos, encontrando palavras que contornem o lápis azul da censura. Ser preso político e continuar com discernimento para olhar o futuro, sem rancor.

Veiga Simão: como é que um físico nuclear, fazendo uma carreira como professor catedrático e depois reitor, chega a embaixador de Portugal na ONU. Será por mérito ou competência que é nomeado Ministro da Educação antes do 25 de Abril de 74, onde, diga-se, fez uma das mais importantes reformas na educação até hoje, volta a ser Ministro da Indústria e Energia na década de 80, e mais tarde, na década de 90, é Ministro de Defesa no Governo de António Guterres.

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