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Entrevista a Emídio Marrazes

Atualizado: 28 de abr.

Entrevista a Emídio Marrazes


Emidio Marrazes, natural da Marinha Grande. Tem 64 anos, é atualmente reformado, dos 14 aos 24 anos foi operário vidreiro, porém a partir dos 24 até aos 61 trabalhou na indústria de moldes, e durante a sua adolescência foi um ativista contra o sistema político.


Qual foi o seu papel no 25 de Abril?

Antes e durante do 25 de Abril fiz parte de um grupo de ação antifascista (GAAF) sempre sem nunca me juntar a um partido.


Com que idade é que se juntou ao GAAF?

Juntei-me ao GAAF, sensivelmente com 15/16 anos.


Quais foram as causas que o levaram a juntar ao GAAF?

Quando eu me juntei ao GAAF havia um agudizar da situação económica, as pessoas começaram a viver mal, o povo estava descontente, a luta de classes piorou, havia ainda um medo de ir para a Guerra Colonial e o Estado reprimia ferozmente as greves, manifestações e sindicatos. E ainda um momento que me marcou e que me levou a fazer parte do GAAF foi quando um colega meu foi chamado para a guerra e, passado 2 anos, recebi a notícia que ele tinha morrido na guerra.


Qual era a sua função no GAAF?

No GAAF, a minha missão propriamente dita, e a minha luta era juntar-me com outros amigos e colegas de trabalho, alertando-os que temos de lutar, fazer barulho para acabar com a guerra, portanto, nós eramos um grupo que se juntava e que escrevia de madrugada nas paredes “não devíamos ir para a guerra”, “esta guerra não é nossa”, em sítios estratégicos com boa visibilidade. Havia alguns colegas que tinham mais habilidade para a arte que desenhavam bandeiras, fazíamos ainda folhetos e entre outras coisas.


Qual foi o episódio mais marcante?

Não diria bem marcante, mas é curioso, eu tinha um amigo que fazia parte do GAAF e nós reuníamos em casa dele, mas escondido do pai, pois o amigo desconfiava que o seu pai fazia parte da PIDE. Reuníamos na garagem, íamos a uma hora combinada, mas entravamos á vez de 5 em 5 minutos. Num dia, eu era o último a entrar, eu antes disso tinha de ir espalhar os folhetos  (contra a guerra e contra o fascismo) pelos cafés e outros sítios estratégicos, depois quando chegou a minha hora de entrar para essa reunião detetei que havia duas pessoas adultas, talvez membro da PIDE, a rondar a garagem para a frente e para trás e não pude entrar, na altura não havia telemóveis, então a forma como nós comunicávamos era, se eu não entrasse, havia algum problema, podíamos estar a ser vigiados e eu não podia entrar e eles tinham de ter o dobro do cuidado. Neste dia a forma que eu arranjei para correr tudo bem foi esperar que a reunião acabasse e ir à casa do meu amigo, ir ter com o pai dele e dizer que se tinham reunido todos lá para fazer um lanche e acabou por correr tudo bem.

 

Teve mede de ser apanhado pela PIDE após se juntar ao GAAF?

Havia sempre algum medo, para nos juntarmos para tratar sobre assuntos do GAAF tínhamos de ter sempre alguma desculpa, por exemplo, quando me reunia com colegas da minha idade dizíamos que íamos jogar futebol. Quando havia reuniões, por exemplo em Leiria, não usávamos os nossos nomes verdadeiros, um dos meus pseudónimos era José e não Emídio. E para falar com colegas do dia a dia só falávamos de política se tivéssemos um elevado nível de confiança.

 

 

Daniel Pinto N.º5 12.ºG

Gabriela Dias, N.º7 12.ºG

Leonardo Coimbra, N.º9 12.ºG

José Carlos, N.º14 12.ºH

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